Território Criativo vai a São Sebastião e Varjão
Programa de incentivo à economia criativa tem nova etapa; na ação, comunidades têm acesso a mutirão para obtenção do Cadastro de Entes e Agentes Culturais
O Programa Território Criativo, política de Estado instituída pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) para fortalecer as cadeias produtivas das artes no Distrito Federal, começou esta semana sua edição 2023 – passando por São Sebastião e Varjão. Até meados do ano, a ação batizada Caravana Território Criativo vai visitar também as regiões administrativas do Itapoã, Paranoá, Planaltina, Riacho Fundo, Arniqueira e Gama, num total de seis ações com as cidades agrupadas em microrregiões.
“Gosto desse termo caravana. Sugere uma força motriz que visita várias localidades e impulsiona a economia criativa com uma série de atividades formativas e de capacitação de agentes culturais. Faz parte do esforço da secretaria de chegar a todos os cantos do DF, descentralizando e democratizando o acesso aos recursos”, afirma o titular da Secec, Bartolomeu Rodrigues.
A ação deste ano é resultado de um termo aditivo que ampliou o escopo do programa de 2022 para atender ao todo 12 regiões. Nessa etapa, no Centro de Ensino São Francisco, em São Sebastião, e na Casa de Cultura do Varjão, as comunidades tiveram acesso a um mutirão para obtenção do Cadastro de Entes e Agentes Culturais (Ceac); a palestras sobre empreendedorismo, economia criativa, acessibilidade; oficinas; e mentorias de portfólio e para oficialização como microempreendedor individual (MEI).
“O objetivo da palestra é criar um ambiente favorável para a promoção do ensino, da cultura do empreendedorismo cultural com foco na economia criativa no cenário de Brasília”Luciana Alencar, coordenadora de formação do programa
No Chicão, apelido do centro de ensino, a estudante Clara Cristiny Alves de Oliveira, 17 anos, do 3º ano do ensino médio, considerava a possibilidade de obter o Ceac no futuro próximo. Ela atualmente já ajuda a família com renda de R$ 1 mil por mês, em média, fazendo edição de vídeos na internet. Havia acabado de assistir à palestra sobre o que é economia criativa e percebeu que já está dentro dela, ainda que informalmente. “Achei a palestra muito boa. Estou pensando em tirar meu Ceac”, disse Clara, de uniforme da escola, por trás das espessas lentes de seus óculos.
“É um caminho sem volta”, asseverava no palco pouco antes, durante a palestra, a coordenadora de formação do programa, Luciana Alencar, referindo-se à necessidade das pessoas que têm talentos e habilidades de empreender e não contarem apenas com a oferta de empregos formais. “O objetivo da palestra é criar um ambiente favorável para a promoção do ensino, da cultura do empreendedorismo cultural com foco na economia criativa no cenário de Brasília”, explicou.
Na plateia, Luciana contava com a curiosidade de cerca de 50 estudantes do 3º ano, que já sentem em casa a pressão por ajuda para pagar as contas, atingida a barreira dos 18 anos. Para driblar a timidez do grupo, Luciana usou a estratégia de motivá-los a abrir suas “caixinhas de sonhos”, escrevendo numa tira de papel o que gostariam de ser quando deixassem o Chicão para encarar o mundo. Das caixinhas saíram desejos de atuar no segmento audiovisual (fotografia, vídeo, cinema), no hip-hop, no teatro. Na economia criativa, portanto. Estava fixado o conceito.
A intérprete de Libras Bárbara Barbosa preparou uma abordagem sobre acessibilidade que quer muito mais que frisar a importância da língua brasileira de sinais. Nessa atividade profissional, desde o primeira apresentação com tradução/interpretação no DF, em 2006, ela buscava sensibilizar uma audiência sem pessoas com deficiência (PcD) para a importância da inclusão delas, como produtores e como público, quando chegar a hora de assumirem lugares de agentes de cultura na cadeia da economia criativa.
“Quero passar para os jovens que acessibilidade é ampliar o acesso e a compreensão nos eventos e espetáculos. Depois de apresentações com os dois públicos, os ouvintes e os surdos, já constatei que falam das mesmas coisas e com o mesmo entusiasmo”, assevera.
No palco, à tarde, ao lado da palestrante Luciana Alencar, ela sabia que roubava parte da atenção dos estudantes. “Eles ficam de olho em mim para saber como vou traduzir as coisas que a colega dizia”. Explicou que tem entre três e cinco segundos entre ouvir a fala do palestrante e decidir os gestos que vão dar conta do sentido.
Carol Peres, coordenadora administrativa da Lente Cultural, organização da sociedade civil encarregada de tocar a caravana até junho, explica que os frutos da iniciativa ficam visíveis apenas dois a três anos adiante. Os potenciais empreendedores levam esse tempo para escolher uma atividade, ter um portfólio, tirar o Ceac e formalizar o primeiro projeto com chances de aprovação. “É uma experiência incrível, que muda a chave na cabeça deles. Ano passado, no Sol Nascente, formalizamos 22 Ceacs. Estamos torcendo”.
Outra atividade no pacote da Caravana nesta etapa é um encontro com a contadora Dayse Reike, com experiência de mais de 30 anos em contabilidade comercial e atuante no acompanhamento e apoio às atividades de criação. Ela orienta sobre as possibilidades de se tornar um MEI. O público para esse assunto, adulto, é recebido no terceiro turno do dia, que funciona até as 22h. “Podemos chamar de assessoria. Mas, mais que isso, faço o trabalho de formalização. Muita gente vem se informar e já sai com o MEI pronto”, explica.
Em 2022, o Território Criativo atendeu cerca de 700 pessoas em seis microrregiões do DF. Este ano, com menos ações, mais 200 devem ganhar condições de concorrer aos editais. “Ao final do programa, vamos contabilizar os frutos. São Ceacs novos, mais portfólios, mais gente preparada para concorrer aos editais, mais microempreendedores. Sabemos que as sementes estão lançadas. Confiamos que estamos no caminho certo”, acredita Carol. As expressões dos estudantes no Chicão pareciam lhe dar razão.
*Com informações da Secec-DF