Escola pública no Paranoá atua contra o racismo durante todo o ano
Dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira (20), vem sendo festejado desde sexta na na unidade de ensino; são 1,5 mil alunos que, diariamente, aprendem a valorizar e respeitar a cultura africana
Durante todo o ano, ensinamentos antirracistas fazem parte do conteúdo dado dentro e fora da sala de aula aos estudantes do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 2 do Paranoá. São 1.500 alunos, incluindo os da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que recebem aprendem sobre a história e cultura do continente africano, o que contribui para a reflexão sobre a influência da população negra na sociedade brasileira.
Já na sexta-feira (17), a instituição começou a promover atividades em alusão ao Dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda (20). Com a presença de diversos convidados, a festa teve desfile de moda da beleza negra, contação de histórias africanas, afro-brasileiras e indígenas.
“O desfile foi para mostrar um pouco da cultura do continente africano, com destaque para as roupa, as variedades das cores nos tecidos, os adornos e acessórios que fazem parte da beleza africana”, resumiu a aluna sexto ano Samila Cristiane Pacheco, 13, que foi modelo pela primeira vez.
Valorização
Desde janeiro, os alunos participam de oficinas relacionadas à cultura negra, nas quais aprendem sobre percussão, pintura em tecidos africanos, dança e capoeira. As oficinas têm o apoio de estudantes da Universidade de Brasília (UnB) e de artistas da cidade.
Nas aulas, os alunos estudam a história, geografia e cultura do continente africano, discutem o papel da mão de obra dos africanos, debatem políticas públicas – como as cotas raciais – e aprendem sobre a valorização dessa ancestralidade.
“É um trabalho de identidade maravilhoso onde os alunos podem estudar com aprofundamento sobre o continente africano, e eles entendem que também são parte dessa cultura”, explica a professora aposentada Edna Andrade, uma das idealizadoras do projeto.
“Em uma escola onde 70% dos estudantes são negros ou pardos e boa parte nem sequer consegue se definir como negro, é fundamental que tenhamos essas reflexões muito vivas em nossos programas de trabalho”, pontua Edna. Esse projeto promove esse debate, além de exaltar a beleza que há por trás de toda a história sobre africanidades.”
Imersão
“Não dá para celebrar a africanidade só em novembro. Isso precisa ser permanente” Maria Goretti Vieira Vulcão, professora do CEF 2 do Paranoá
Atualmente na coordenação do projeto, a professora de História Maria Goretti Vieira Vulcão lembra que o objetivo é aproximar os estudantes da cultura africana para, assim, ensiná-los a respeitá-la. “As oficinas proporcionam a imersão dos estudantes na cultura afro-brasileira e indígena, que tanto influenciam a nossa cultura”, aponta.
Para ela, esse é um tema que deve ser trabalhado nas escolas o tempo todo. “Não dá para celebrar a africanidade só em novembro. Isso precisa ser permanente”, ressalta. “A gente sabe que alguns ensinamentos só serão amadurecidos amanhã, mas estamos preparando o terreno para esses alunos terem uma vivência mais cidadã”.
“Eu fico muito feliz quando a escola trabalha cultura popular, pois reflete muito o que acredito e o meu trabalho, que é esse resgate da identidade, da nossa ancestralidade” Martinha do Coco, artista popular
A aluna Samila confirma a importância do projeto: “Estudar sobre identidade negra, em especial a cultura africana, me ajudou bastante. Eu já sofri racismo na minha antiga escola e não sabia me defender. Hoje eu consigo entender o que vivia. Quando você aprende sobre a sua cultura, também aprende sobre o seu valor. Agora me sinto mais bonita e não ligo para o que os outros pensam”.
Ancestralidade
Artista conhecida como Rainha do Paranoá, a musicista Martinha do Coco foi a convidada especial para encerramento da festa no pátio da escola. Pernambucana radicada no DF, ela levou músicas autorais e o melhor da dança regional nesse estilo.
“Eu fico muito feliz quando a escola trabalha cultura popular, pois reflete muito o que acredito e o meu trabalho, que é esse resgate da identidade, da nossa ancestralidade”, afirma. “Os estudantes precisam ter uma referência, e eu me sinto honrada em contribuir com a minha música.”
*Com informações da Secretaria de Educação do DF (SEE)